A NR-1 que define diretrizes de segurança e saúde no trabalho, está prestes a entrar em vigor, e seu impacto pode ser significativo para indivíduos e empresas. A partir de maio, será mandatório que as organizações implementem práticas que identificam e gerenciam riscos psicossociais, fatores invisíveis que, ao longo do tempo, influenciam o desempenho e o bem-estar das equipes.
Como ocorre em eventos que afetam a sociedade, grupos minorizados tendem a sentir os efeitos de forma mais aguda.
A pandemia de Covid-19 é um exemplo claro disso, Estudos, como os publicados pelo Banco Mundial, evidenciam que trabalhadores em funções não especializadas, com acesso limitado à tecnologia e que tradicionalmente assumem a maior parte das responsabilidades domésticas, sofreram as maiores perdas.
As figuras parentais, especialmente as mães, enfrentam uma série de desafios que agravam seu quadro de saúde mental.
Tratando-se de divisão sexual do trabalho, um estudo conduzido pelo IBGE em 2022, apontou que mulheres brasileiras dedicam 9,6 horas por semana a mais do que os homens aos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas. Muitas mães se veem sobrecarregadas com a responsabilidade de tarefas visíveis e invisíveis, cuidando da casa, da família e, especialmente, dos filhos, ao mesmo tempo em que lidam com a precariedade no mercado de trabalho. Mulheres sem filhos muitas vezes enfrentam preconceitos durante entrevistas de emprego relacionadas a uma possível maternidade, impactando suas oportunidades.
Além disso, aquelas que se preparam para a licença-maternidade sentem o peso do impacto financeiro que a chegada de um filho pode trazer. Um estudo do Banco Mundial, publicado pela The Economist, revela que as “penalidades da maternidade” afetam severamente a maioria das mulheres, sendo que o Brasil contribui para essa média negativa.
Agentes estressores
As mães que atravessam a maternidade geralmente acumulam funções e responsabilidades. Esse contexto, repleto de agentes estressores, gera um ambiente propício para problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e síndrome de burnout. Em janeiro de 2022, a inclusão do burnout entre as doenças laborais ressaltou que o trabalho é, senão o principal, um dos maiores estressores que contribuem para o adoecimento mental.
O filme O Que Tiver Que Ser (2024) trouxe o tópico da carga mental para um lugar de mais fácil acesso, contudo ainda é um assunto pouco abordado. O longa conta a história de Stella, uma mãe que tenta recuperar sua família, que está prestes a desabar. Para isso, leva todos para assistir a uma competição de pole dance da filha. O filme é uma reflexão crítica sobre os papéis de gênero, sobretudo do homem dentro da dinâmica familiar e o quanto ele deve estar presente na vida de seus filhos.
Assédio e comportamentos inadequados, como discriminação e intimidação, também são aspectos demasiadamente preocupantes que afetam a saúde mental das figuras parentais. Diante disso, há uma indagação importante: como esperar que pais e mães que já enfrentam um turbilhão de desafios em suas vidas pessoais se manifestem contra uma liderança que os persegue?
O emprego é, muitas vezes, a única fonte de sustento para essas famílias, criando uma dinâmica de poder perversa baseada nas relações de trabalho atuais.
Recomendações para o RH
Ao longo de minha caminhada como gestor de recursos humanos, implementando projetos, como a licença parental de seis meses em um grande conglomerado de bebidas destiladas, e diversos programas de consultoria, conscientização e capacitações pela Filhos no Currículo, me atrevo a citar algumas recomendações significativas para as equipes de recursos humanos na construção de um ambiente saudável para todas as pessoas, sobretudo figuras parentais:
1) Conserte o básico: atente-se à regulamentação e garanta que sua empresa tenha os canais corretos, autônomos e independentes que possam acolher denúncias.
2) Construa um estudo de caso mostrando o impacto no negócio: assim como na pandemia do Covid-19, a NR-1 representa uma nova oportunidade para os profissionais de RH e de Psicologia, que foram altamente requisitados para atuar diretamente com as pessoas ou assumir posições de protagonismo. Esses profissionais se tornaram peças-chave na condução de comitês de crise e na sobrevivência dos negócios.
A implementação da NR-1 exige um RH capaz de influenciar o negócio. Para isso, é importante que CHROs incorporem o quanto antes a agenda de saúde mental, integridade e parentalidade nas suas prioridades, tanto em ajuste de estrutura e processos, como nas narrativas de clima, cultura e valores das organizações.
3) Capacite-se: é fundamental que profissionais de RH se envolvam nas investigações de denúncias relacionadas a comportamentos inadequados e, o mais importante, trabalhem para garantir que existam processos que responsabilizem os agentes que ameaçam a saúde mental.
4) Dê atenção à liderança: incluir os conteúdos de integridade, parentalidade e saúde mental na agenda de trabalho da liderança é essencial para gerar uma transformação correta suave dentro de qualquer organização. A Filhos no Currículo vem acompanhando e colaborando com empresas como Veolia, General Mills, Striker e o Hospital Israelita Albert Einstein, que apostam no desen...
5) Chame pessoas aliadas para conversar: precisamos criar pontes e não construir muros. Figuras (não) parentais e pais são essenciais na transformação do espaço de trabalho em um local livre de de assédio. Os programas que fomentam grupos de homens, trabalhando o tema de masculinidade e o papel desses homens como pessoas aliadas, vem surtindo efeito. Um exemplo disso é a formação desses grupos (de homens como aliados) pela farmacêutica Roche junto à Siderúrgica ArcelorMittal.
Obrigação que é também oportunidade
A implementação da NR-1 torna-se, assim, uma oportunidade crucial para repensar e revitalizar as dinâmicas de trabalho nas empresas, especialmente em um contexto no qual os riscos psicossociais precisam ser identificados e geridos de forma eficaz.
Com a liderança no centro dessa transformação, as organizações têm a chance de cultivar um ambiente que prioriza a saúde mental e o bem-estar de todos os colaboradores, especialmente pais e mães, que enfrentam desafios únicos. Investir na capacitação de líderes em temas de equidade de gênero e parentalidade é fundamental para garantir que práticas justas e inclusivas sejam adotadas.
Dessa forma, será possível construir uma cultura corporativa mais humanizada, que não apenas respeite, mas que também valorize a diversidade de experiências que cada membro traz para a organização. Esse é um passo essencial rumo ao desenvolvimento sustentável e à prosperidade organizacional, refletindo um compromisso com a saúde mental e com a dignidade de todas as pessoas colaboradoras.
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